PT cria cargo para manter Haddad em evidência
O PT criou um cargo para manter o candidato derrotado do
partido à Presidência, Fernando
Haddad, em evidência. O ex-prefeito de São Paulo será o coordenador dos
Núcleos de Acompanhamento de Políticas Públicas (NAPPs), criados pelo partido
para monitorar as ações do governo Jair Bolsonaro e, ao mesmo tempo, elaborar
propostas para oferecer à oposição ao longo dos próximos quatro anos em várias
áreas como economia, políticas sociais, saúde, educação e segurança.
O PT completa 39 anos de fundação hoje com a crescente
percepção de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu líder máximo, está
definitivamente fora das disputas eleitorais depois da segunda condenação por corrupção na Lava Jato, e da
necessidade de criar uma alternativa a ele nas urnas.
Por isso, o partido se esforça para manter o protagonismo de
Haddad, hoje o nome mais visível da legenda, como opção eleitoral. A
coordenação dos recém-criados NAPPs foi a forma encontrada pela direção para
dar protagonismo ao ex-prefeito, diante da dificuldade de criar palanques e
capitalizar os 47 milhões de votos recebidos por ele na eleição presidencial de
2018.
Segundo dirigentes que participaram da reunião da Executiva Nacional do partido, neste final de
semana, em São Paulo, a importância de Haddad hoje para o PT foi resumida em
uma frase de Alberto Cantalice, um dos vice-presidentes da sigla, durante o
encontro:
“Haddad é hoje a maior liderança do PT, solta”, disse
Cantalice à direção do partido.
No ano passado, aliados de Haddad articularam seu nome para
substituir Gleisi Hoffmann na presidência da sigla. A articulação foi barrada
por Lula.
Petistas avaliam também que os adversários do partido na
esquerda já estão explorando a segunda condenação de Lula para ganhar
protagonismo no campo da oposição. Para dirigentes do PT, a fala de Ciro Gomes na Bienal da UNE em Salvador, na
semana passada, não foi apenas um arroubo do pedetista, mas um gesto calculado
com o objetivo de reforçar a mensagem de que Lula é carta fora do baralho das
urnas e transformar a frase “Lula tá preso, babaca” numa espécie de bordão
anti-petista.
Durante a reunião da Executiva, vários dirigentes disseram
que a segunda condenação do ex-presidente e outras ações do Judiciário,como a proibição de que ele fosse ao enterro de seu irmão, Vavá,
seriam formas de excluir o petista do debate político. E que o PT está
praticamente de mãos atadas.
Embora o PT tenha decidido dar prioridade à campanha “Lula
Livre”, a avaliação corrente no partido é a de que o ex-presidente só será
solto quando a direita deixar o poder.
Além disso, o partido enfrenta divergências internas que
ameaçam sua unidade na oposição ao governo Bolsonaro. Uma delas é dentro da
própria bancada. Petistas calculam que pelo menos 10 deputados do partido
votaram a favor de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na eleição para a Presidência da Câmara em
troca de cargos em comissões, apesar de o PT ter apoiado Marcelo Freixo
(PSOL-RJ).
A bancada e os governadores também têm posições diferentes
em alguns temas como a reforma da Previdência. Enquanto os parlamentares rejeitam
a reforma na esperança de capitalizar politicamente a rejeição popular à
proposta, governadores estão preocupados com as finanças estaduais. O
governador do Piauí, Wellington Dias, gerou constrangimentos ao colocar o
assunto na reunião da Executiva.
Sem acordo
Por fim, existem as históricas divisões e disputas por
espaço entre as correntes internas do PT. A reunião do final de semana, que
deveria definir um calendário para a eleição da próxima direção, terminou sem
acordo.
Haddad e Gleisi travaram uma discussão sobre a viagem da
presidente do partido para a posse de Nicolás Maduro, na Venezuela, e
as divergências entre os dois, antes mantidas entre quatro paredes, vieram a
público, mesmo que ambos tenham trocado afagos durante a festa de aniversário
do partido, sábado, na quadra do Sindicato dos Bancários, em São Paulo.
Para superar as divergências, ganhar o protagonismo na
oposição a Bolsonaro e se manter como opção de esquerda para ocupar o poder
central, o PT decidiu criar os NAPPs e criar um cargo para dar visibilidade a
Haddad.
A ideia é que o candidato derrotado à Presidência viaje o
Brasil discutindo alternativas para as ações de Bolsonaro. A base vai ser o
programa de governo da campanha, coordenado pelo próprio Haddad. As primeiras
viagens serão ao Ceará e Piauí. Nos dias 20 e 21 de março, o ex-prefeito vai
coordenar um seminário com parlamentares, governadores e demais lideranças do
PT, PSB, PC do B e PSOL, em Brasília, para debater e criar propostas
alternativas aos planos apresentados pelo governo Bolsonaro para reforma da
Previdência e segurança pública.
A ideia é fazer com que a esquerda se aproprie de temas como
combate à violência e aos privilégios, hoje nas mãos do governo e seus aliados.
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